CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL

CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL
As instituições de educação para as crianças entre 0 e 6 anos de idade começam a se esboçar no final do século XVIII, propagando-se por meio de uma circulação de pessoas e idéias que precisa ainda ser melhor pesquisada. Criadas para atender as crianças pobres e as mães trabalhadoras, desde o início se apresentaram como primordialmente educacionais. A escola de principiantes ou escola de tricotar, criada por Oberlin em 1769, sendo reconhecida como a primeira delas. De acordo com os seus objetivos, ali a criança deveria: perder os maus hábitos; adquirir hábitos de obediência, sinceridade, bondade, ordem, etc.; conhecer as letras minúsculas; soletrar; pronunciar bem as palavras e sílabas difíceis; conhecer a denominação francesa correta das coisas que lhe mostram e adquirir as primeiras noções de moral e religião. A iniciativa de Oberlin inspirou Robert Owen, industrial que criou uma escola, em 1816, para os operários de sua indústria, seus filhos e a comunidade de New Lanark, na Escócia, com uma classe infantil, que recebia crianças dos dois aos seis anos de idade. A partir disso, muitas instituições infantis começaram a surgir, Iniciando, assim as concepções de Educação Infantil:

Assistencialismo: com a expansão da indústria, a participação da mulher no trabalho fabril surgem as primeiras instituições infantis, onde as crianças eram cuidadas por voluntários ou pessoas contratadas por industriais. Tal concepção possui características de guarda das crianças, do cuidado em si mesmo, da assistência às camadas empobrecidas, da separação entre cuidado e educação, falta de conhecimento sobre o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Destinada às classes populares como estratégia para combater a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças, justificando atendimentos de baixo custo, com escassez de recursos, precariedade de instalações, formação insuficiente de seus profissionais e alta proporção de crianças por adulto. O atendimento era entendido como um favor oferecido para poucos. Enfatiza o cuidar, a higienização e alimentação para o desenvolvimento de uma nação sadia.

Desenvolvimento natural - Escola nova: faz-se necessário rever criticamente formas tradicionais, dando ênfase na evolução natural da criança e valorizando o interesse da mesma que precisa ser estimulada especialmente por atividades que envolvam o jogo e o brinquedo, onde a criança deve aprender fazendo, por meio da experiência. A brincadeira é a fase mais alta do desenvolvimento da criança — do desenvolvimento humano neste período; pois ela é a representação auto-ativa do interno — representação do interno, da necessidade e do impulso internos. A brincadeira é a mais pura, a mais espiritual atividade do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana como um todo — da vida natural interna escondida no homem e em todas as coisas. Por isso ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso interno e externo, paz com o mundo. Ela tem a fonte de tudo o que é bom.

Compensatória: compensar as deficiências das crianças, sua miséria, sua pobreza e a negligência familiar, consideradas como causas do fracasso escolar, por isso busca-se “reparar um dano”, solucionando as deficiências das crianças consideradas culturalmente inferiores. Assim, são desenvolvidos programas para a infância, propondo-se que as creches se preocupem com a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças por meio de atividades educativas lúdicas.

Preparatória: é aquela que tem como função primordial preparar as crianças para terem sucesso nas primeiras séries do ensino fundamental, mais especificamente para não fracassarem na alfabetização, buscando desenvolver as habilidades motoras, lingüísticas e cognitivas, embasadas na compreensão cumulativa da aprendizagem, partindo do que é considerado fácil para o difícil, do simples para o complexo, criando uma seqüência determinada, uma necessidade de uma ordem pré-estabelecida de conteúdos (empirismo: acredita nas experiências como formadoras das idéias), que precisam ser seguidos daquela maneira para conseguir aprendê-los.

Na busca de mudanças, houve fases de transição, que se revelam por meio de propostas efetivadas nos estados e municípios, ainda sem uma política clara e uma visão de unidade a respeito da infância, bem como da criança brasileira. Final da década de 70 início da década de 80, a creche passa a ser vista como instituição social e politicamente necessária, capaz de resolver os problemas sociais e educacionais e, a pré-escola vai passar por uma fase de transição,

Concepção Global da criança: fundamenta a idéia de Educação Infantil desenvolvimentista, com objetivos focados na criança em si, independente de sua história e das condições sociais. O objetivo da educação é o desenvolvimento global e harmônico da criança. Global porque inclui todos os aspectos do ser humano, harmônico porque todos estes aspectos devem desenvolver-se equilibradamente, paralelamente, sem exageros nem limitações. Busca-se o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e atitudes, nos aspectos: motores, afetivos, sociais e cognitivos.

Concepção Pedagógica: estudos científicos apontavam para a necessidade de compreender que a creche e a pré-escola tem uma Função Pedagógica, enfatizando aprendizagem estimuladora e significativa, garantindo novos conhecimentos e favorecendo o processo de alfabetização por meio do trabalho sistematizado. A proposta da educação infantil deve estar permeada por uma concepção de criança e educação infantil que valorize o sujeito e o seu processo de formação humana. A educação infantil deve ser o espaço onde a criança poderá ter acesso a conhecimentos formados historicamente ao mesmo tempo em que participa como sujeito histórico, produtor dessa cultura. Por meio da interação da criança com o outro, ela irá descobrir-se, descobrir o outro, descobrir o mundo, experimentando, e criar novos significados para sua intervenção nesse mundo. O processo educativo da criança é marcado pela internalizaçao de valores, crenças, normas e representações sociais dominantes que contribuem com o processo de formação corporal, cultural, psicológica e social, e assim, para a realização e envolvimento dos sujeitos em suas futuras atividades produtivas e sociais. A educação infantil possui duas dimensões: a de cuidar e a de educar, que devem ser consideradas como essenciais e importantes nas propostas pedagógicas voltadas para essa faixa etária, sendo necessário ressaltar que o cuidar compreende os cuidados básicos com a alimentação, a higiene e o vestuário. E além do cuidar é necessário o educar a criança, colocando-a como indivíduo que possui o direito de se apropriar do conhecimento e começar a se preparar para o processo de alfabetização.

Texto elaborado por SANDRA VAZ DE LIMA a partir Do texto de KUHLMANN, Junior Moyses. Trajetórias das Concepções de Educação Infantil.