CONCEITO DE INFÂNCIA

CONCEITO DE INFÂNCIA


O sentimento de infância, a ideia de infância, a representação de infância, todos esses fenômenos psicossociais surgiram na civilização muito vagarosamente e ligado a motivos os mais surpreendentes.
A visão sobre a infância, como um período específico pela qual todos passam, é uma construção definida na atualidade. A questão de que todos os indivíduos nascem e serão crianças até um determinado período, independente da condição vivida, é inegável.
Entretanto, tal premissa nem sempre foi percebida dessa maneira, e por diversos períodos se questionou qual era o tempo da infância e quem era a criança. Esse conceito ou ideia que se tem da infância foi sendo historicamente construído e a criança, por muito tempo, não foi vista como um ser em desenvolvimento, com características e necessidades próprias, e sim como um adulto em miniatura.
Etimologicamente: do latim IN (não) FANCIA (capacidade da fala), nessa perspectiva, a fase da infância seria caracterizada pela ausência da fala e de comportamentos esperados, considerados como manifestações irracionais.
A infância se contrapõe à vida adulta, pois os comportamentos considerados racionais ou providos da razão seriam encontrados apenas no indivíduo adulto, identificando, assim, o adulto como o homem que pensa, raciocina e age, com capacidade para alterar o mundo que o cerca; tal capacidade não seria possível às crianças.
Do século XII ao século XVIII, ocorreram grandes transformações históricas, onde a infância tomou diferentes conotações dentro do imaginário do homem em todos os aspectos, sejam eles sociais, culturais, políticos e econômicos.
A criança era vista como substituível, como ser produtivo que tinha uma função utilitária para a sociedade, pois a partir dos sete anos de idade era inserida na vida adulta e tornava-se útil na economia familiar, realizando tarefas, imitando seus pais e suas mães, acompanhando-os em seus ofícios e cumprindo, assim, seu papel perante a coletividade. As famílias eram numerosas e seus limites de intimidade, quase que inexistentes. As pessoas viviam a maior parte do seu tempo fora de casa, na rua, nas praças ou no meio de comunidades de trabalho, de festas, de orações.
Esses foram séculos de altos índices de infanticídio. As crianças eram jogadas fora e substituídas por outras sem sentimentos.
No século XVII com a interferência dos poderes públicos e com a preocupação da igreja em não aceitar passivamente o infanticídio. Além disso, as aprendizagens ocorriam nas famílias de todas as crianças, pobres e ricas, e a cultura dessas duas infâncias tem como parâmetro os laços com o mundo dos adultos, possibilitado, principalmente, pela liberdade em espaços compartilhados; a criança presenciava experiências que resultavam dessas relações: aprendia convivendo. Nessa ótica da importância das relações familiares com a criança e as relações eram muito importantes, pois todos compartilhavam em tudo, ou seja, um dependia do outro.
Pode-se interpretar então, que a afirmação do sentimento da infância no século XVIII vê a educação ou a institucionalização da criança como responsabilidade da família, percebendo que os filhos são frutos da possibilidade da ascensão social. “Pais enxergam através de seus filhos a possibilidade da administração dos bens familiares e, consequentemente, a ampliação das posses”
Desse contexto moral é que a educação das crianças passa a ser construída, através do posicionamento de moralistas e educadores e, principalmente, com o surgimento da família nuclear gerada dentro dos padrões do modelo de família conservadora, símbolo da continuidade parental e patriarcal que marca a relação pai, mãe e criança.
A preocupação da família com a educação da criança fez com que mudanças ocorressem e os pais começassem, então, a encarregar-se de seus filhos. Houve ainda, a necessidade da imposição de regras e normas na nova educação e a formação de uma criança melhor doutrinada, atendendo à nova sociedade que emergia. Tal concepção de indivíduo que aparece, faz com que a criança seja alvo do controle familiar ou do grupo social em que ela está inserida.
Com as modificações nas relações sociais que se estabelece na Idade Moderna, a criança passa a ter um papel central nas preocupações da família e da sociedade. A nova percepção e organização social fizeram com que os laços entre adultos e crianças, pais e filhos, fossem fortalecidos. A partir deste momento, a criança começa a ser vista como indivíduo social, dentro da coletividade, e a família tem grande preocupação com sua saúde e sua educação. Tais elementos são fatores imprescindíveis para a mudança de toda a relação social.
Com o surgimento desse novo homem aparecem também as primeiras instituições educacionais, sugerindo que os adultos compreenderam a particularidade da infância e a importância, tanto moral como social e metódica, de as crianças frequentarem instituições especiais, adaptadas a tais finalidades. Com isso a criança passa a ter um papel central nas preocupações da família na sociedade, mostrando os encantos de deixar as famílias dentro dos portões e muros. A nova organização social e da família é fruto da evolução política e econômica da época moderna.
Neste período Rousseau promove uma revolução na pedagogia, centrando os interesses pedagógicos no aluno e não mais no professor. Afirma que a criança não é um adulto em miniatura e destaca ainda que a criança é um ser com características próprias em suas ideias e interesses. Formulou princípios educacionais que permanecem até nossos dias, principalmente quando afirmava que a verdadeira finalidade da educação era ensinar a criança a viver e a aprender a exercer a liberdade.
Texto elaborado por SANDRA VAZ DE LIMA, com base na Dissertação de Mestrado de Gislene Lossnitz - O Primeiro Jardim de Infância no Brasil: Emília Ericksen. (A busca da compreensão do conceito de infância). Ponta Grossa, 2006.